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Opinião | Aprendizagem, aliada do desenvolvimento sustentável

Opinião | Aprendizagem, aliada do desenvolvimento sustentável

Embora o Brasil tenha desafios, as empresas não podem transferir a responsabilidade da formação dos jovens para o Estado, que não o fará

Por Humberto Casagrande

Aproxima-se a votação no Congresso Nacional do Projeto de Lei 6461, que trará importantes definições na operacionalização da Lei do Aprendiz. Com isso, crescem os posicionamentos públicos a respeito dessa política pública de inserção dos jovens no mercado de trabalho.

A Lei do Aprendiz é a única maneira legal de jovens abaixo de 18 anos conquistarem seu primeiro emprego. Podem também ser aprendizes aqueles que têm entre 18 e 24 anos.

Além de garantir a mais de 600 mil jovens uma oportunidade valiosa de conseguir emprego, a aprendizagem proporciona a milhares de empresas a possibilidade de contar com jovens entusiasmados e mais bem formados, com menor custo e menor carga horária — além de contribuir para o desenvolvimento social do País.

Para que se tenha a real dimensão da importância da aprendizagem, é necessário observar as mudanças pelas quais passou ao longo do tempo. De 1943 a 2003, a aprendizagem foi responsabilidade exclusiva do Sistema S, com o contingente médio de 50 mil jovens. A partir da lei de 2000, regulamentada em 2003, o número saltou para 700 mil, com o potencial de superar 1 milhão de pessoas.

Em vez do “aprendiz tarefeiro” da Revolução Industrial, emergiu o protagonismo do jovem, com formação pessoal e profissional, sendo que ao menos 40% da formação é teórica. As habilidades socioemocionais são hoje essenciais para o desenvolvimento de um profissional. Além disso, o Brasil tem enormes lacunas de formação familiar e escolar, e o programa de aprendizagem busca eliminar esses gaps de forma transformadora.

Isso não representa uma perda para a empresa contratante. Pelo contrário, o jovem adquire as habilidades necessárias para ser um colaborador moderno e efetivo, levando à empresa a comunicação digital dos dias atuais, os novos hábitos do consumidor e as transformações sociais.

Alguns setores empresariais ainda veem a aprendizagem como uma “política social de baixo retorno”, defendendo o “aprendiz tarefeiro” e ignorando a realidade brasileira.

Querem um jovem de alta performance como na Alemanha ou Áustria, realidades distantes da nossa. Essa visão defasada ajuda a explicar o processo de desindustrialização e outros atrasos na economia nacional.

Há um debate raso que utiliza estatísticas sem comprovação para enfraquecer o programa. Dizer, por exemplo, que apenas 10% dos aprendizes são efetivados é falso, pois não há dados concretos que comprovem essa porcentagem.

Outra falácia é afirmar que “aprendiz não tem chefe”. Todos os aprendizes trabalham com um supervisor experiente. A jornada inclui um dia de formação na entidade capacitadora e outros quatro de trabalho dentro da empresa, com supervisão similar à de qualquer colaborador. Não há capataz, mas um supervisor que guia o jovem pelas melhores práticas.

Opor-se a essa realidade é um erro. Embora o Brasil tenha desafios, as empresas não podem transferir a responsabilidade da formação dos jovens para o Estado, que não o fará. Em vez de empurrar o problema, é preciso resolvê-lo.

De acordo com dados do IBGE, existem 33,6 milhões de pessoas de 14 a 24 anos no País, e apenas 14,5 milhões estão ocupadas. Além disso, 5,3 milhões de jovens entre 18 e 24 anos não estudam nem trabalham — são os “Sem-Sem”, sem formação e sem oportunidade. Essa falta de perspectivas contribui para a evasão escolar, o desemprego e a maior adesão à criminalidade.

A aprendizagem, ao combinar aprendizado prático e educação formal, ajuda a preparar a próxima geração de profissionais de maneira inclusiva. Além disso, as empresas que contratam aprendizes recebem apoio de entidades como o CIEE, que conta com 16 cursos e 135 polos de capacitação, atendendo 80 mil jovens.

Embora haja sempre espaço para melhorias, o Brasil não pode abrir mão da aprendizagem. Sem ela, não podemos sonhar com um país mais justo e com a produtividade necessária para competir no mercado global.

Opinião por Humberto Casagrande

CEO do CIEE, engenheiro de Produção pela Universidade Federal de São Carlos, e mestre em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Texto publicado originalmente em estadao.com.br.

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