Filhos não são apenas pequenas vidas sob nossa responsabilidade. Eles são mestres. São mentores. São convites vivos ao crescimento. Desde o momento em que chegam ao mundo, nos desafiam a ser melhores. A cada choro, uma oportunidade de aprender a decifrar o que não é dito. A cada birra, um convite para a paciência e a escuta ativa. A cada pergunta desconcertante, um chamado à curiosidade e ao pensamento crítico.
Mas, para aprender com nossos filhos, precisamos primeiro nos colocar no papel de aprendizes da vida. Sair do lugar de quem apenas ensina e nos abrir para quem também aprende. A verdade é que eles não são nossos. Eles são deles mesmos. E vieram para nos ensinar tanto quanto estamos aqui para ensiná-los.
Brené Brown, a qual tenho como uma das referências para meu trabalho, disse que a vulnerabilidade é uma força. Percebo que nada me tornou mais vulnerável do que a maternidade.
Ela afirma que ser vulnerável não é ser fraco, mas estar aberto ao aprendizado e à transformação. Isso vale para as relações humanas, para o trabalho e, principalmente, para a parentalidade. Porque ser mãe ou pai é, acima de tudo, um exercício de humildade.
Meus filhos me mostram todos os dias que eu não sei tudo.
Esse lugar é desconcertante na mesma medida que é um trampolim para novas descobertas.
Está tudo bem não saber. Vulnerabilidade e curiosidade andam juntas.
Assisti recentemente à série Adolescência, da Netflix. Ante as inúmeras reflexões provocadas, uma das que mais me assolaram foi o tamanho da minha vulnerabilidade ao não saber absolutamente nada dos códigos e das linguagens dessa geração.
Ter a humildade de aprender com os mais novos
Eu não me achava desatualizada. Sinto-me atenta ao que está acontecendo no mundo, tenho contas nas redes sociais, uso o chatGPT e, de certa forma, achei que entendia alguma coisa desse universo. Mas, ao me deparar com os diálogos da série, ficou claro para mim a distância geracional e o fato de pais e mães serem obsoletos e vulneráveis.
O não saber é um lugar de humildade para descermos as escadas e estarmos dispostos a compreender o universo do outro, curiosos para aprender sempre mais e na relação.
Curiosidade sobre o que não somos, sobre o que ainda precisamos aprender, é um mindset de crescimento.
Esse é o mesmo mindset que impulsiona carreiras, que faz líderes se desenvolverem e que diferencia empresas que inovam daquelas que ficam para trás.
Se lideranças que aprendem com outras gerações criam ambientes mais saudáveis e inovadores, imagine o impacto de aprender com aqueles que são seres completamente novos no mundo. Que chegam sem filtros, sem certezas, sem preconceitos. Filhos nos ensinam a ver o mundo com frescor. Nos ensinam a escutar o que não foi dito. A questionar regras invisíveis. A mudar.
É preciso, então, acrescentar ao nosso exercício parental o olhar não apenas sobre o que devemos ensinar a eles, mas também nos perguntar: quem eu preciso me tornar? O que eu preciso aprender?
Cada filho pede algo novo. Tenho por aqui três orientadores de carreira (meus filhos) que exigem, para cada um, um plano de desenvolvimento individual de competências. Para um, preciso aprender a escutar melhor; para outro, melhorar a comunicação e me fazer entendida; para o terceiro, ser mais flexível.
Se eu encarar minha relação com meus filhos como um plano de desenvolvimento de habilidades, consigo enxergar que toda oportunidade que vivo como mãe é um convite para desenvolver competências profissionais e de vida.
Se eles necessitam que eu tenha mais paciência, preciso trabalhar minha gestão emocional. Se precisam que eu saiba dar limites, tenho de aprender a me posicionar. Se precisam que eu esteja presente, devo rever minhas prioridades e minha gestão de tempo. Se precisam que eu confie neles, minha tarefa é aprender a delegar.
E se a maternidade e a paternidade fossem vistas assim? Como um treinamento de liderança, uma escola de gestão, uma experiência imersiva em negociação, mediação de conflitos e adaptação?
Convido você a fazer esse questionamento. Certamente encontrará respostas pelo caminho, inclusive para outras perguntas que possa estar fazendo.
O fato é que ser a mulher que meus filhos precisam também me torna a pessoa que o mundo precisa que eu seja, inclusive no trabalho.
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