Emprego

Demissões voluntárias crescem e indicam insatisfação de jovens com o trabalho

Demissões voluntárias crescem e indicam insatisfação de jovens com o trabalho

No primeiro trimestre de 2025, a taxa de desemprego atingiu 7% da população brasileira, como mostram dados divulgados nos últimos dias pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua) do IBGE. Em trajetória de alta nos últimos meses, chamam a atenção outros números, vindos do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que demonstram outra tendência em crescimento: as demissões voluntárias.

Considerando os dados do Novo CAGED, as pesquisadoras do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), Janaína Feijó e Helena Zahar, apontam que nos dois primeiros meses deste ano, 37,8% de todas as dispensas de trabalhadores com carteira assinada foram voluntárias, somando 1,625 milhão de pedidos. 

Os números mostram crescimento de 15,5% na comparação com o mesmo período de 2024 (1,4 milhão), e um aumento ainda mais expressivo de 32,9% frente a 2023 (1,2 milhão). “Evidencia uma tendência consistente de alta nas demissões voluntárias, indicando que os trabalhadores estão cada vez mais buscando melhores oportunidades no mercado”, dizem as pesquisadoras da FGV.

À procura de melhores salários

Ondas de demissões voluntárias não são novidades nem no Brasil, nem no mundo. Durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011-2014), observou-se um aumento significativo no número de trabalhadores solicitando o seguro-desemprego, mesmo em um contexto de estabilidade econômica. Isso levou o governo a adotar medidas mais restritivas ao benefício em 2015, primeiro ano do segundo mandato, e também quando a taxa de desemprego atingiu 9,6%. 

Enquanto isso, nos Estados Unidos, o fenômeno denominado “The Great Resignation” (A Grande Renúncia) ocorreu devido ao recorde de demissões voluntárias em reflexo à pandemia da COVID-19. Entre abril de 2021 e abril de 2022, mais de 71,6 milhões de trabalhadores americanos deixaram os seus empregos devido a baixos salários, falta de oportunidades de crescimento profissional e insatisfação com o ambiente de trabalho. 

Agora, por aqui, as demissões do tipo trazem novas direções sobre as necessidades dos trabalhadores. “O que temos observado é que, com o mercado aquecido, muitos buscam novas oportunidades por melhores salários — especialmente os trabalhadores com menor qualificação, para quem a remuneração é um fator decisivo”, explica Jefferson Mariano, analista do IBGE e professor na Faculdade Cásper Líbero.

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Segundo ele, o Brasil passa por um momento de melhora no mercado de trabalho, com aumento da ocupação, redução da desocupação e retomada das contratações com carteira assinada. “Esse ambiente mais robusto tem dado mais segurança para que trabalhadores troquem de emprego por iniciativa própria. Além disso, há a influência da reforma trabalhista, de 2017, que permitiu novos formatos de desligamento, como os acordos entre empregador e empregado.” 

GenZs estão mais propensos a pedir demissão

A busca por melhores salários, na maioria dos casos, não necessariamente se relaciona com melhores benefícios e qualidade de vida. De acordo com Mariano, esses fatores estão mais associados a grupos de maior renda, com posições de trabalho que exigem mais qualificações profissionais — como ensino superior completo e pós-graduações.

“Grupos que lideram os pedidos de demissão são, em geral, jovens em ocupações que exigem menor especialização. Essa mobilidade está mais associada aos trabalhadores mais jovens e de setores com alta demanda, como o de serviços”, diz Mariano. Enquanto isso, trabalhadores mais velhos tendem a permanecer por mais tempo nos empregos, muitos com mais de dois anos na mesma ocupação.

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O apontamento do analista do IBGE vai em linha com o levantamento das pesquisadoras da FGV Ibre. Janaína Feijó e Helena Zahar mostram que, em relação à faixa etária, os trabalhadores entre 18 e 24 anos foram os que mais se demitiram voluntariamente em 2025, representando cerca de 30% das demissões a pedido totais nos últimos anos. 

Embora os trabalhadores de 30 a 39 anos detenham a segunda maior participação (26,1%), seu peso tem caído gradualmente ao longo do tempo, passando de 28,7% em 2020 para 26,1% em 2025. “Tais resultados mostram que as demissões a pedido se concentram em faixas etárias mais jovens”, ressaltam as pesquisadoras.

Buscas por “demissão” disparam 173%

Se os pedidos de demissão estão em alta no mercado, na internet o movimento não poderia ser diferente. Um levantamento da Onlinecurriculo aponta que as buscas pelo termo “demissão” no Google dispararam 173% entre os meses de março de 2024 e março de 2025. Ao todo, foram 819,2 mil buscas no período.

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Contudo, vale observar que a maioria delas não questiona apenas o procedimento burocrático, mas revela uma preocupação concreta com as consequências do pedido de demissão. Dentre as 12 dúvidas mais comuns, nove são sobre a ideia de se desligar da empresa voluntariamente. Veja abaixo. 

Além disso, as buscas mais frequentes revelam que, para os trabalhadores, o maior temor envolve o impacto dessa decisão nas finanças pessoais. Isso porque questões sobre o valor das verbas rescisórias, como o cálculo das verbas rescisórias, dominam as pesquisas. 

Dúvidas sobre o saque do FGTS e a possibilidade de acesso ao seguro-desemprego reforçam a preocupação com a estabilidade financeira pós-demissão. No total, as pesquisas relacionadas ao futuro financeiro de quem deseja se demitir somaram 491,5 mil.

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