O SoftBank anunciou nesta quinta (21) a aquisição da Ampere Computing, fabricante independente de chips baseados em arquitetura Arm, por US$ 6,5 bilhões, em um movimento que parece ser apenas uma peça em um plano maior da companhia de Masayoshi Son.
A aquisição deve ser concluída no segundo semestre deste ano, e investidores como a Oracle e Carlyle Group devem fazer seus exits. A Oracle, que possuía 29% da fabricante e investiu cerca de US$ 1,5 bilhão na empresa, deve recuperar aproximadamente US$ 1,9 bilhão com a transação. Segundo reportou o The New York Times, ainda não se sabe quanto o Carlyle Group e outros investidores receberão.
“O futuro da Superinteligência Artificial requer um poder de computação revolucionário”, disse Masayoshi Son, CEO do SoftBank Group, em comunicado. “A expertise da Ampere em semicondutores e computação de alto desempenho ajudará a acelerar essa visão e reforça nosso compromisso com a inovação em IA nos Estados Unidos.”
Analisando mais friamente, não é difícil ver como a compra da Ampere, uma das poucas empresas independentes a desenvolver e comercializar chips baseados na arquitetura Arm para servidores, sugere um plano mais amplo do SoftBank no setor de semicondutores e IA.
A Ampere conquistou um espaço de destaque no mercado de chips para servidores ao fornecer suas soluções para big techs como Oracle, Google e Microsoft. Com o M&A, ela continuará operando como uma entidade separada e não será incorporada à Arm (controlada pelo SoftBank), evitando possíveis conflitos com clientes no setor de data centers. No entanto, nada impede que a tecnologia desenvolvida pela Ampere seja licenciada para a Arm.
Contudo, conforme sugerem analistas, o M&A pode ser um grande acqui-hire para a gigante japonesa. Além do know-how da Ampere, um dos principais ativos da aquisição são os cerca de 1,5 mil engenheiros especializados em chips e microcódigo que já trouxeram ao mercado três gerações de processadores.
Essa equipe altamente qualificada pode desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento de novos chips para o Projeto Stargate, uma iniciativa da OpenAI que visa investir US$ 500 bilhões nos próximos quatro anos para a construção de infraestrutura de inteligência artificial.
No contexto do Projeto Stargate, anunciado na Casa Branca em janeiro de 2024 com o endosso do presidente Trump, a OpenAI tem a responsabilidade operacional do projeto, enquanto o SoftBank é responsável pelo financiamento. No entanto, grande parte dos US$ 500 bilhões deve vir do fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos, MGX, que administra um portfólio de US$ 1,4 trilhão.
E onde fica a Arm nisso aí?
O SoftBank, que comprou a Arm por US$ 32,4 bilhões em 2016 e ainda detém 90% da companhia após sua abertura de capital em 2024, já possuía os recursos necessários para fabricar chips baseados na arquitetura. A aquisição da Ampere pode ser vista como um reforço para essa estratégia, garantindo acesso a designs avançados e expertise técnica para expandir seu portfólio.
A Ampere tem um roadmap ambicioso, com planos para um processador de 512 núcleos e integração de IA no pacote de CPU com seu próximo chip, o “Aurora” AmpereOne A3, previsto para 2025.
Outro ponto é que o SoftBank controla a Graphcore, empresa especializada em aceleradores de IA, adquirida em julho de 2024. Com a Ampere agora em seu portfólio, o SoftBank fortalece sua posição no setor de chips para IA e servidores, ao mesmo tempo em que se torna um fornecedor ainda mais relevante para o Projeto Stargate.
Para completar, a OpenAI pode entrar como outra peça nesse quebra-cabeça, dada a possibilidade de um megainvestimento de US$ 40 bilhões do SoftBank na dona do ChatGPT. Por sua vez, a OpenAI não possui um time robusto de desenvolvimento de hardware, e pode se beneficiar dessa estrutura para criar seus próprios chips personalizados.
Além disso, o movimento pode ser um “empurrão” adicional para uma adoção maior de chips baseados em arquitetura Arm. Aliás, a própria Nvidia tem incentivado o uso de chips Arm como alternativa, embora continue dando suporte a CPUs da Intel e AMD.
O anúncio do SoftBank sugere que a Ampere colaborará com outras empresas, potencialmente criando um poderoso ecossistema de soluções de computação baseadas em Arm. Essa colaboração pode se estender às diversas empresas do portfólio do SoftBank, incluindo o gigante da web coreano/japonês LY Corp, a ByteDance (controladora do TikTok) e várias startups de IA.
Se o SoftBank conseguir direcionar suas empresas investidas para os processadores da Ampere, isso poderá acelerar a transição dos data centers globais da arquitetura x86 para soluções baseadas em Arm.
Analistas do setor especulam que o SoftBank pode posicionar a Arm para focar em designs customizados para clientes de hiperescala, enquanto a Ampere assume a liderança no mercado de processadores de servidores mais padronizados. Alternativamente, as duas empresas poderiam ser fundidas ou realinhadas para apresentar uma estratégia unificada contra as gigantes Intel e AMD.
Agora, nos resta aguardar os próximos capítulos.