Digital

Skullgirls, Indivisible, e uma história de altos e (muitos) baixos – Meio Bit

Skullgirls, Indivisible, e uma história de altos e (muitos) baixos – Meio Bit

A saga do desenvolvimento de Skullgirls é uma das mais convolutas da história dos games. O título em 2D reuniu figurinhas carimbadas da comunidade dos jogos de luta, artistas e desenvolvedores independentes, em torno da ideia de criar uma nova marca original, mas com elementos técnicos que não devem em nada a pesos-pesados do gênero, especialmente as séries Guilty Gear e BlazBlue.

Por trás das cortinas, entretanto, Skullgirls e o RPG de turnos Indivisible foram pivôs de disputas, acusações, e brigas feias entre os vários desenvolvedores e estúdios envolvidos, e os controladores de ambas IPs, com a mais recente, de calote e quebra de contratos, se somando à história.

Skullgirls 2nd Encore (Crédito: Divulgação/Autumn Games)

Skullgirls 2nd Encore (Crédito: Divulgação/Autumn Games)

Skullgirls e a troca de mãos

Skullgirls nasceu de personagens e designs criados pelo artista independente Alex “o_8” Ahad, alguns datados de seus tempos no ensino médio. Ele teve a ideia de usá-los em um hipotético jogo de luta quando ainda estava na faculdade, um plano posto em movimento quando conheceu “Mike Z” Zaimont, desenvolvedor independente, então competidor da EVO, e um dos melhores jogadores de BlazBlue dos Estados Unidos.

Os trabalhos começaram em 2008, com Mike Z desenvolvendo a engine e Ahad refinando os designs das personagens, definindo Skullgirls como um jogo de luta composto quase que totalmente por mulheres, com poderes e habilidades sobre-humanas. A história se passa em um reino habitado por todo tipo de criaturas, sendo uma mistura dos EUA da primeira metade do século XX, com elementos fantásticos e uma vibe cartunesca, estilo Warner Bros. da época.

Para o desenvolvimento próprio do game, Zaimont e Ahad recorreram à recém-fundada Reverge Labs, que iniciou o trabalho ativo em 2011; a distribuição ficou a cargo da pequena Autumn Games, com a Konami atuando como parceira.

Lançado em abril de 2012 para PS3 e Xbox 360, Skullgirls era original o suficiente para se destacar no meio dos jogos de luta já estabelecidos, a direção de arte principalmente feita à mão, comandada por Ahad, por Mariel Kinuko Cartwright, Jonathan Kim e Brian Jun, foi bastante elogiada por jogadores e críticos, e ele já era bastante equilibrado e técnico desde o início.

Só que os problemas não demoraram a aparecer. Pouco após o lançamento, a Autumn Games recebeu vários processos referentes ao desenvolvimento de um título anterior, Def Jam Rapstar, que drenou suas finanças e prejudicou o desenvolvimento contínuo do jogo de luta. Em junho do mesmo ano, todo o time de desenvolvimento da Reverge Labs foi demitido, após o fim do contrato entre o estúdio e a distribuidora, que não foi renovado, o que permitiu à Autumn assumir o controle da marca Skullgirls.

Os desenvolvedores se reorganizaram em um novo estúdio, chamado Lab Zero Games e controlado por Mike Z, com estes trabalhando nas versões de PC (lançada em agosto de 2013) e DLCs prometidos, que foram financiados via crowdfunding, quando veio outra paulada: em novembro de 2013, a Autumn Games rompeu o contrato de co-distribuição com a Konami, alegando que o estúdio japonês não fazia o mínimo para auxiliar no desenvolvimento de patches de correção.

Skullgirls tem um visual cartunesco, mas é bem técnico (Crédito: Divulgação/Autumn Games)Skullgirls tem um visual cartunesco, mas é bem técnico (Crédito: Divulgação/Autumn Games)

Skullgirls tem um visual cartunesco, mas é bem técnico (Crédito: Divulgação/Autumn Games)

A Konami, tendo direitos sobre a distribuição, exigiu a remoção de Skullgirls das lojas digitais devido o fim da parceria, e foi assim que a versão original do game deixou de existir. Ele seria relançado nos consoles de 7.ª geração e no Windows em 2014 como Skullgirls Encore, desenvolvido pela Lab Zero e distribuído somente pela Autumn, antes de ser revisado como Skullgirls 2nd Encore, sendo esta a encarnação que chegou aos Arcades, além do PS4, Xbox One e Series X|S, PS Vita, Nintendo Switch, Windows (de novo), macOS, e Linux.

Indivisible e o fim da Lab Zero Games

A LAb Zero Games passaria os próximos anos ajustando Skullgirls com patches de correção e quilíbrio, e lançando novos personagens e conteúdos, quase todos bancados pelo público, o que a estimulou a investir em um novo game. Desta vez um RPG de turnos, Indivisible foi fortemente inspirado em lendas dos povos do sudeste asiático, e contava com Cartwright no comando da arte, mais uma vez desenhada à mão, além de atuar como co-roteirista.

Anunciado em 2015, Indivisible quase não atingiu o limiar de financiamento do Indiegogo, de 60% dos US$ 1,5 milhão pretendidos dentro do prazo, mas chegou ao patamar e garantiu a continuidade do projeto posteriormente. O título conta com animações do Studio Trigger (Kill la Kill, Delicious in Dungeon, Star Wars: Visions) e Titmouse (Big Mouth, Star Trek: Lower Decks), e uma abertura animada dirigida por Yoh Yoshinari (Little Witch Academia); a trilha sonora, por sua vez, foi assinada por Hiroki Kukuta (Secret of Mana), enquanto a 505 Games respondeu pela distribuição.

O game foi lançado em outubro de 2019 para PS4, Xbox One, Windows, macOS e Linux, em abril de 2020 para Switch, e então vieram mais problemas. Em junho do mesmo ano, Mike Z recebeu várias denúncias de desvio de conduta por parte de desenvolvedores da Lab Zero Games, incluindo assédio moral e sexual; o conselho do estúdio exigiu a saída de Zaimont, que respondeu com a dissolução do mesmo, e assumindo total controle da desenvolvedora.

Em resposta, todos os funcionários pediram demissão, e a Lab Zero foi dissolvida oficialmente em 9 de outubro de 2020; 11 dias depois, Indivisible chegou de forma inesperada ao Amazon Luna, mas o imbróglio contratual poderia significar que o RPG poderia ser removido das lojas digitais, e deixar efetivamente de existir. Por sorte, a 505 Games manteve o compromisso e o distribui até hoje, ainda que todos os projetos relacionados, de DLCs a uma série animada, tenham sido cancelados.

Pego no fogo cruzado entre devs e Mike Z, Indivisible quase deixou de existir (Crédito: Divulgação/Lab Zero Games/505 Games)Pego no fogo cruzado entre devs e Mike Z, Indivisible quase deixou de existir (Crédito: Divulgação/Lab Zero Games/505 Games)

Pego no fogo cruzado entre devs e Mike Z, Indivisible quase deixou de existir (Crédito: Divulgação/Lab Zero Games/505 Games)

Tecnicamente a IP pertence a Mike Z, mas este não tem se envolvido com games desde as acusações de 2019, o fechamento do estúdio, e posteriormente revelar que sofre de síndrome de Asperger (um quadro severo dentro do espectro autista), que segundo ele, impacta em sua qualidade de vida e trabalho.

Vários membros da Lab Zero formaram um terceiro estúdio, chamado Future Club, que passou a cuidar do desenvolvimento contínuo de Skullgirls 2nd Encore, e em 2021 recebeu o reforço de outra desenvolvedora, chamada Hidden Variable, que também responde pela versão mobile. E não, os problemas não acabaram.

Hidden Variable e o calote

Em junho de 2023, o game recebeu uma onda de review bombings no Steam, após os desenvolvedores alterarem vários visuais das personagens, removendo elementos e designs sexualizados de lutadoras adolescentes, e extirpando quaisquer referências a grupos de ódio (a facção da Parasoul, para todos os efeitos, era uma versão da Alemanha nazista).

Corta para fevereiro de 2025, e a Hidden Variable anunciou que não mais tem qualquer ligação com a franquia Skullgirls, tendo deixado de trabalhar no desenvolvimento de ambos games, porque segundo os responsáveis, a Autumn Games (você se lembra, a dona da marca) teria falhado em realizar diversos pagamentos nos últimos meses. O estúdio está agora processando a distribuidora, e busca uma indenização de mais de US$ 1,2 milhão para cobrir as dívidas, com juros.

A Future Club não toca no assunto Skullgirls há muito tempo, e se limitou a um comentário sarcástico (se relacionado ou não, ele não diz, mas para quem sabe ler, pingo é letra) quando a bomba envolvendo a Hidden Variable foi jogada no ventilador; seu time está atualmente focado em seu primeiro título independente, o recém-anunciado Part-Time Hero: I’m Broke But I Have To Save The World!, e deu a entender que também estava pulando para fora do barco.

Não demorou muito, e a Autumn Games confirmou os problemas, dizendo não ser um estúdio grande, como se isso servisse de desculpa para um calote; pouco depois, através do Discord oficial, a distribuidora revelou que está assumindo integralmente o desenvolvimento do game, sem terceiros envolvidos.

Será que os problemas envolvendo Skullgirls finalmente acabaram? (Crédito: Divulgação/Autumn Games)Será que os problemas envolvendo Skullgirls finalmente acabaram? (Crédito: Divulgação/Autumn Games)

Será que os problemas envolvendo Skullgirls finalmente acabaram? (Crédito: Divulgação/Autumn Games)

Embora Skullgirls e suas várias versões tenham feito barulho na comunidade dos jogos de luta, e vendido razoavelmente bem, o título ficou marcado pelos inúmeros problemas ao longo dos anos, que ofuscam um título de ótima apresentação e equilíbrio, tendo eles vazado e prejudicado enormemente Indivisible, um excelente RPG que merece ser mais conhecido.

Só o futuro dirá se a caveira enterrada no quintal de todos os envolvidos (provavelmente o Skull Heart) foi eliminada de vez, ou se a Autumn Games, mesmo trabalhando sozinha, continuará enrolada daqui por diante, o que pode se refletir em Skullgirls e desta vez, sem outros estúdios para se apoiar.



Related posts
Digital

Nintendo anuncia pré-venda nos EUA após tarifaço; veja preços • Tecnoblog

Nintendo Switch 2 teve preço revelado em 2 de abril (imagem: Divulgação/Nintendo) O…
Leia mais
Digital

Aplicativos Gratuitos para Android e iOS da Semana

Fim de semana de Páscoa também é perfeito para conferir dicas imperdíveis de aplicativos e jogos…
Leia mais
Digital

iPhone 16 Pro: apenas uma versão compacta do melhor celular Apple? Análise / Review

O TudoCelular analisou o que o iPhone 16 e sua versão Pro Max têm a oferecer…
Leia mais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.